o desconexo

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14.2.05

MANIFESTO DARQ
Versão 1.1

“Foi isso que quisemos capturar: o que de incerto se fala nos corredores, ou o que ainda não foi dito ou experimentado.”
(N.Correia, J.Figueira, G.Canto Moniz, editorial ECDJ nº2, 2000)

Se uma escola fala através dos seus professores e alunos (idem) o que tem o darq para dizer? O que tem o darq dito até hoje?

No ano 2000 é publicada a ECDJ nº2, 10 anos de arquitectura no colégio das artes. Este manifesto não ousou esperar mais cinco anos por uma próxima ECDJ sobre 20 anos de arquitectura no colégio das artes, ou até mesmo por mais uma edição dos esquecidos Encontros de Tomar… Uma escola constrói-se em cada dia que passa. E hoje contribuímos para esta escola.

Há 5 anos J.Figueira e A.Olaio falavam de uma escola lenta para uma arquitectura veloz, e hoje temos uma escola estagnada para uma arquitectura que continua veloz. Precisamos de uma escola dinâmica capaz de responder ás solicitações exteriores, formando alunos e formando professores.
Precisamos de alunos interessados e interessantes.
Precisamos de professores empenhados e verdadeiramente comprometidos com o projecto-escola.

Precisamos de uma escola que acompanhe as pedagogias da educação em arquitectura (contemporâneas) que se praticam lá fora, e acreditamos que, ainda com dificuldades económico-financeiras é possível elaborar um projecto pedagógico inovador, ousado e experimentalista ou então um modelo de escola ao nível do que ensina e pratica lá fora. Uma escola que forme profissionais preparados….

Na mesma ECDJ, P.Varela Gomes fala de uma escola, não entre o Porto e Lisboa, mas entre Coimbra e o mundo. Neste momento o dARQ é uma escola inter(entre)nada.
Não é esta escola que queremos, queremos uma escola que dê resposta a todos os desejos de saber e fazer porque queremos ser arquitectos intervenientes no campo da arquitectura, um campo amplo e pluridisciplinar.

É imperativo que exista um diálogo constante e dinâmico entre a comunidade dARQ, seja para falar do projecto a ou b, ou para falar dos problemas da escola. É necessário parar este fenómeno “bola-de-neve”, precisamos de gerar anti-corpos para combater este vírus apático que contamina o dARQ. A dinâmica do espaço-escola é determinada pelos alunos, e pelos professores. Precisamos de discutir ideias para esta escola.

O darq enfrenta constantemente problemas logísticos e pedagógicos, parte de todos nós uma resposta e um dialogo constante, visando resolvê-los.

A biblioteca do dARQ funciona mal, e o espólio de livros é insuficiente. (salva-nos a biblioteca da FAUP, mais 4 horas de viagem e 14 euros para o transporte ferroviário.)
O horário de funcionamento da biblioteca é insuficiente, e com a recente queda do tecto da sala de leitura, (neste momento em reparações), não foi providenciado nenhuma sala de leitura temporária. Esta situação requer resolução, pois existem livros e revistas monográficas que só podem ser consultadas no interior da biblioteca.

No início de cada ano lectivo repete-se a situação de insuficiências físicas e materiais. O dARQ não possui estiradores e cadeiras suficientes nas salas de projecto. As salas de projecto tornam-se pequenas para o número de alunos. E com o decurso do ano agrava-se a situação devido à falta de espaço para maquetagem.
Não existem suportes multimédia em número suficiente. (projectores de slides, telas, triplas, extensões)
O número de computadores disponíveis é insuficiente (15 computadores para 400 alunos), assim como o horário de funcionamento da sala de informática, tendo em conta a fundamental importância do desenho assistido por computador no projecto de arquitectura.

A situação física das instalações do dARQ continua insustentável, nas salas de aulas continuam a existir infiltrações, o reboco do tecto continua a cair, e não é papel de cenário a servir de forro que irá solucionar a situação.
Há insuficiência de salas de aulas que reúnam as condições necessárias para as necessidades das disciplinas que as ocupam em horário lectivo, seja para o número de alunos, seja em material de apoio.

A falta de conforto, de espaços de trabalho, está inter-relacionado com a falta de produtividade. Tem-se verificado um afastamento de alunos e professores do espaço escola, e disso resulta o incumprimento de horários, à falta de diálogo, de participação, a menor tempo de acompanhamento dos alunos. Decorrente do desleixo físico do espaço escola, temos o desleixe físico, mental e pedagógico.

É necessário que a escola não seja lugar de obrigatoriedade de horários mas de prazer no ensino e aprendizagem de arquitectura. E quanto à questão do cumprimento de horários os alunos saem prejudicados nomeadamente com aulas que começam sistematicamente, e sintomaticamente com, pelo menos, 1 hora de atraso.
Assistimos à avançada extinção do espírito de escola, e ao lento estrangulamento da operacionalidade do dARQ.

Dada a pequena dimensão do dARQ, e ainda que com dificuldades de financiamento, acreditamos que é possível lançar um programa experimental de educação em arquitectura. Uma escola, um espaço-crítica, um campo onde fundimos o global com o local, onde nos preparamos para as multiplicidades urbanas, um projecto integrativo de todas as disciplinas, e não cadeiras separadas, muitas vezes sem qualquer relação de conteúdos programáticos entre elas. Um espaço-escola que acolha o debate, a conferência, o projecto…

“Com isto estarão todos de acordo. Mas como se pratica este acordo?” P.V.Gomes (2000)

Imaginamos uma sala de trabalho para cada ano (tal como existe) imaginamos projectos no estirador, maquetas, cartão prensado, cola UHU, ao lado de anotamentos de urbanologia, geografia, antropologia, desenhos da aula de construção e notas da conferencia da semana passada… por esta sala ao longo do dia, ao longo da semana passam os professores das várias cadeiras e leccionam a sua aula, e ali naquele momento, e a todo o momento, o aluno - objecto fundamental num processo constante: o projecto integrativo.

Temos de ser arquitectos globais. Temos de estar prontos para um concurso na Guarda ou em Hong Kong, e para isto o desenho é a linguagem global. E o desenho não é só o lápis, a rotring de tinta da china, ou o auto-cad; hoje o desenho é o archi-cad, o formZ, o rhino, o photoshop, o coreldraw, entre outros, e com eles os renders, as montagens, as foto-colagens numa educação visual pluri-disciplinar. E necessário rever o Plano de Estudos, e neste processo os alunos devem ser consultados, pois são eles as cobaias. …

“O desafio maior dos próximos 10 anos vai ser o de transformar o darq, do depósito de cruzamentos de alguns dos testemunhos da melhor prática de ensino (…), numa plataforma que reinvente as dádivas e reintroduza o futuro” J.Figueira (2000)
É urgente renovar este ensino que se apoia em verdades idiossincráticas de cada professor e da cultura arquitectónica portuguesa, um processo que estagnou à anos.


“Uma escola, enquanto projecto específico, é o que tal instituição exige de nós. Mas a Escola, o espírito da escola, a própria essência da sua vontade de existência é o que o arquitecto deveria introduzir no projecto.” L.Kahn fala-nos do projecto enquanto representação visual, mas projecto como disciplina não altera o contexto da citação.
E o debate sobre o papel da docência? Quais as diferenças ou semelhanças entre o arquitecto e o professor de arquitectura? É um processo também integrante, entre dois momentos que se completam, onde é possível ser um agente activo sem deixar nenhum dos lados para trás. E se for necessário que se opte, sob o risco de se ser prejudicial.


Não nos deixemos intimidar com questões burocráticas, não adiemos a situação para a avaliação dos “20 anos de arquitectura no dARQ”, passemos ao ataque, lutemos por esta escola, pelo que acreditamos e também pelos desafios que o presente nos propõe. E a solução não é impossível.

“Lembrando mais uma vez a utilidade de debates entre os professores desta Escola, quando houver disponibilidade e sentirmos essa necessidade, recordo aqui, megalomanamente, a Academia de Arquitectura de Paris, fundada em 1971 por Colbert, cujos objectivos eram promover, através de reuniões semanais, o estudo, a reflexão e a transmissão de conhecimentos, no sentido de definir regras para o ensino público da arquitectura.” Hestnes Ferreira (2000)

Encontremo-nos em Tomar!

Fevereiro 05
Tiago Borges e Rui Aristides

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