o desconexo

_

16.1.09

Koolhaas Houselife II


Lembram-se de Guadalupe Acedo? Emigrante espanhola e empregada doméstica numa casa em Bordéus que ficou conhecida como a Koolhaas Housewife. Apareceu aqui no blog... e só há pouco tempo atrás é que tive oportunidade de ler o livro e ver o filme.

O mote para a semana de limpezas que o documentário se propõe acompanhar começa com o que resta de uma visita de trinta turistas em dia de jornadas do património. Após o prelúdio, o filme abre com uma das mais bem conseguidas aberturas de documentários que conheço na qual vemos Guadalupe Acedo e o seu aspirador numa graciosa ascensão na plataforma da casa ao som de Strauss (salvo erro). Mas o que parecia dar sinais de ser uma narrativa esboroa-se em pequenos episódios de manutenção e limpezas na casa de Koolhaas.
Koolhaas Houselife é um documentário do tipo manta de retalhos, sequências cosidas umas atrás das outras com alguns incidentes vividos na casa de Bordéus filtrados pela experiência diária da empregada doméstica.

A ideia deste documentário é à partida boa. Conquistar o público fã da arquitectura contemporânea com uma atmosfera de "dia-de-faxina". Mostrar o que se estaria longe de descobrir: limpezas, manutenções e afins na casa de Bordéus.

Para isso Ila Bêka e Louise Limoîne juntaram uma das casas mais relevantes do século passado e o ordinário realismo do dia-a-dia de Guadalupe Acedo transformada em anfitriã, e atrás de quem se passeia grande parte do filme quase hipnotizados pela massa estampada de bolas pretas sob fundo branco da sua blusa.
Guadalupe partilha o que lhe vai na alma, e chega mesmo a arriscar algumas opiniões sobre a casa sem se libertar dessa posição reservada de quem respeita antes de tudo os gostos da patroa, ou como Guadalupe respeitosamente a trata: la Madame.

A abordagem neo-realista da bêkafilms ao filmar esta casa através de uma vivência concreta e tão autêntica consegue elevar o documentário a exercício interessante. A casa aparece-nos diferente e a percepção espacial ganha espessura à medida que é filmada "à mão levantada".
Ainda que seja um documentário sobre a arquitectura mascarado de outra coisa consegue atingir momentaneamente esse estado de alheação quando o olhar, o percurso, o plano, os cheios e vazios, a composição e os conceitos são desmontados para andarmos simplesmente atrás da Guadalupe.

No princípio provoca uns largos sorrisos ver a casa meter água ao mesmo tempo que três Sherlock Holmes caseiros procuram a origem da patologia, mas o aborrecido é quando o filme parece reduzido apenas a isso: ao vai-e-vem de Guadalupe (com o seu aspirador) e a uma espécie de Dr.Phil arquitectónico. Fica-se à espera de mais qualquer coisa...

_

O dvd vem embutido num livro que sintetiza os capítulos e documenta as respectivas promenades nas plantas da casa. Os autores descrevem também a semana de filmagens que passaram na casa. As fotografias publicadas da casa fazem o livro valer a pena (e já vai na segunda edição). Bêkafilms têm já três outras produções para a mesma série: Pomerol-Herzog et DeMeuron, Xmas Meier, e Gehry's Vertigo.

Saibam mais aqui: Koolhaas Houselife - Bêkafilms


Sem comentários: