crónica chateada de um 2º lugar

Saíram os resultados de um concurso. Ficámos em 2º lugar.

O segundo lugar é um lugar ingrato. É O lugar ingrato.
Não se trata de pertencer à massa anónima dos não classificados por entre as cinquenta e tais agências que concorreram; nem tão pouco ficar no terceiro ou quarto lugar com um prémio monetário que quase dá para pagar os gastos das plotagens e afins.

Ter o terceiro ou o quarto prémio é ficar a uma certa distância da vitória e satisfeito com o relativo reconhecimento de alguma qualidade da proposta. Fica-se a pensar que valeu a pena porque afinal ainda se sai com um prémizito de consolação.
E o que dizemos a um terceiro ou quarto lugar? «ah porreiro, já foi bom, no meio de quantos? ah óptimo resultado... bora lá então celebrar com um jantarzinho».

O que há a dizer a um 2º lugar? Nada. Absolutamente nada.

Primeiro o instante de descrença. Depois a reacção com um desgostoso gemido, seco e tangencial. Partilha-se rapidamente o fulminante sentimento de derrota e esse sabor amargo da frustração presa a um qualquer pormenor ainda por descobrir que separa o segundo do primeiro.
É certo que o segundo lugar ajuda a agência a pagar as contas de dois ou três meses, mas o primeiro lugar dará trabalho para dois ou três anos (isto porque o concurso tinha um programa bem composto).
Lá pelo meio do dia ainda se ouviam os que se convenciam que o segundo lugar é bom, mas quem já ficou em primeiro sabe que não é assim tão bom.

Enquanto espero pelo relatório do júri, vou reservando de lado uma quantidade significativa de revolta resignada, e se o projecto primeiro for realmente melhor dedicar-lhe-ei uma meia dúzia de linhas.