o desconexo

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20.9.10

Cotlenko de Jacques Hondelatte

Apartamento Cotlenko (1988-90) - Jacques Hondelatte

Ainda do mesmo documento, aqui fica a segunda analogia em versão 'copiar-colar' das páginas 96 e 97.

"A remodelação do apartamento Cotlenko em Bordéus foi um projecto de Jacques Hondelatte, com a colaboração de Anne Lacaton e Jean-Philippe Vassal.

Num lote estreito e profundo, o apartamento de três andares é trabalhado numa lógica mista de conservação e ampliação. O valor espacial reside na sucessão de divisões, na sequência dos espaços, que resulta numa «colagem que preserva a heterogeneidade, os confrontos, as tensões e interrogações» (1) entre o existente e a intervenção.

Cada espaço tem uma ambiente tão díspar quanto sedutor do espaço imediatamente a seguir. É a luz que se transforma, e o espaço que se transfigura com a unidade da intervenção a residir na diversidade das atmosferas. O interior convida à deambulação estimulante e à fruição dos câmbios interiores. O espaço torna-se «indefinido, enigmático mas que impõe a sua evidência, a sua poesia sem recursos metafóricos»(2).

Dois elementos, a caixa transparente do elevador e o paralelepípedo enviesado da caixa de escadas, autonomizam-se do conjunto. A sua expressão dinamiza o espaço interior.

No comando do elevador há três números, que correspondem aos três níveis do apartamento, mas os números omitem a verdade, contam outra história.

22, 45, 67 são os andares como se tratasse de uma torre, de um arranha-céus. O acto «insignificante» introduz o «maravilhoso» (3). No elevador do apartamento Cotlenko uma pequena modificação cria uma dimensão onírica, uma história que Jacques Hondelatte parece querer contar.

Tendo sido um projecto com a participação de Anne Lacaton e Jean-Philippe Vassal, o apartamento Cotlenko é, para lá das analogias possíveis, um marco importante onde é possível detectar duas ideias chave que se mantêm no trabalho da dupla francesa.

O valor da atmosfera como um conceito no trabalho dos Lacaton & Vassal: a multiplicidade de atmosferas no interior da habitação através da mutação do interior na sua expressão material, na percepção espacial do habitante, ou mesmo nos gradientes térmicos.

E o valor do onírico: uma história que se sugere, e que afasta o utilizador do edifício através de um artifício que retira à arquitectura o papel principal. Desde os bambus e as buganvílias de Grenoble à estátua para a sede da Architecture Foundation.

(1) Arnaudet, Didier - «Appartement Cotlenko». In Goulet, Patrice - Jacques Hondelatte: Des gratte-ciel dans la tête. Paris: Édition Norma, 2000. p.99 (2) Idem. (3) Goulet, Patrice - 'Portrait d'un enchanteur...'. Goulet, Patrice - Jacquest Jondelatte: Des gratte-ciel dans la tête. op. cit.

2 comentários:

AM disse...

gostava de perceber isso melhor...

tiago borges disse...

eu também! ; )