o desconexo

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26.1.12

regresso ao futuro

Marina Abramovic and Ulay, Rest Energy (1980)
"The opposite of a profound truth may well be another profound truth. Niels Bohr

"If my calculations are correct, when this baby hits eighty eight miles per hour... you're gonna see somme serious shit." Dr. Emmett Brown

"A solução para a arquitectura portuguesa é emigrar" A frase de Souto Moura, discursada enquanto recebia um reconhecimento titular e monetário pela sua obra, tem (quase) tudo para ser uma frase (quase) 'histórica' tanto pela hipótese que carrega como pelo contexto em que foi anunciada. Sem uma palavra a mais e sem uma palavra a menos, teria o perfil talhado para a polémica, não fosse a realidade mais do que evidente antes da bandeirada. Difícil é, no entanto, acenar de rosto concordante por se lhe encontrar outro raciocínio talvez menos imediato mas não por isso menos importante. De vocação internacional, a frase soou a anúncio redentor como se o óbvio não fosse ainda evidente aos olhos de todos aqueles que não têm trabalho, ou tendo trabalho, não fazem o que queriam. Parece simples, 'emigrem'. Demasiado simples.
O que aqui não é assim tão evidente é que, ao sair para fora do país essa massa uniforme de ex-recém formados arquitectos, recém-formados arquitectos e futuros recém-formados arquitectos, não é a 'arquitectura portuguesa' que está a emigrar, mas a formação em 'arquitectura portuguesa'. E isto não é bem a mesma coisa.
Ou seja, se considerarmos que os primeiros 5 anos de trabalho de um recém arquitecto são ainda um período de formação, então afirmar que os potenciais emigrantes não carregam ainda essa herança chamada 'arquitectura portuguesa' não é de todo falso. É diferente e com um outro grau de verdade. Dito assim, a diáspora que poderemos vir a assistir é a da 'escola portuguesa' e não da 'arquitectura portuguesa'. Por outras palavras e a verificar-se uma fervorosa adesão ao movimento, o fenómeno não é uma fatalidade, mas está-se ainda longe de entender o seu impacto na forma da 'futura arquitectura portuguesa recente'. A arquitectura portuguesa 'as we know it', que parece padecer da auto-referenciação, pode ter um fim, ou pelo menos um re-desenho do seu conteúdo.

O trabalho vai ser mais difícil para os 'formuladores teóricos' e para os historiadores - Calling all enthusiasts - a 'futura arquitectura portuguesa recente' será complexa na sua génese formativa. Com fontes mais exigentes a dissecar, a historiografia será menos linear e óbvia. Fortemente contaminada por vivências dispersas, a história dos protagonistas - os projectos - será (mais) difícil de contar, e é provável que 'displacement' se prepare para ser uma palavra-chave. No ar o tempo está suspenso e no chão a posição é arriscada. Fica por descobrir de que lado do arco e flecha está a futura arquitectura portuguesa.

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