o desconexo

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9.9.12

sobre a ligeireza dos assuntos

H.B.Burt "Process of making frozen confections" Patente n.1470524 (1923)

No que diz respeito a gelados, confesso que evito a bola de gelado em copo de papel com colher de plástico. Como se entende, se dois é bom, três é uma multidão.
Nos meus melhores dias minimalistas, prefiro o corneto. Suporte e conteúdo em forma de cone. Não é extraordinário, mas nada se perde, tudo se consome. É um gelado de método. Tem um percurso. Tem um princípio, um meio e um fim. E é um facto que o bom corneto se distingue no fim, ou seja, pela qualidade do chocolate de leite que ocupa a extremidade do cone. A esse último bocado cabe a responsabilidade de coroar os 10 minutos da infantil felicidade de comer um gelado.

Em dias de maior excentricidade sou capaz de procurar super-maxi, um clássico e também o mais conhecido representante dos chamados "gelados de pau". Uma massa uniforme de nata, coberta com uma fina camada de chocolate de leite, solidificada em torno de uma fina tala de madeira. Simples, mas ainda assim, o super-maxi pertence à família dos gelados compostos. Dois elementos em vez de um. O suporte de madeira permite segurar no gelado enquanto nos entretemos. Tradicionalmente começa-se por cima e quando se dá conta estamos perto de concluir a missão. No entanto é aqui que reside o maior problema com os ditos gelados de pau. A perícia do comedor está em saber distinguir qual deve ser o último sorvo. O risco é aqui proporcional à ousadia. Quando a gula é grande, condena-se a satisfação. Não há nada pior do que ficar com o sabor da madeira quando se termina um super-maxi. O que podería ter sido uma boa recordação fica reduzida ao erro de termos ido longe demais.

Em arquitectura é igual. Prova-se uma obra e pela força de tudo querer ver, o detalhe inexplicável enche-nos o olhar com o "sabor da madeira". Nada mais há a fazer. Saímos tristes, com esse gosto entalado no palato da memória, e não pensamos noutra coisa.

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