o desconexo

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3.5.09

peregrinações

Tenho estado em mudanças. Não de casa, mas de pc. Se fosse uma mudança de casa seria tudo mais fácil porque antes da mudança era preciso ordenar, catalogar, encaixotar, desencaixotar e tornar a arrumar.  Sendo uma mudança de alguns gigas, megas, e bytes, tento arrumar um pouco os cantos da casa e não deslocar simplesmente a pesada herança de pastas e ficheiros quase-caoticamente organizados através de dois ou três cliques de rato.

Durante as últimas diligências encontrei algumas fotografias do projecto dos Lacaton & Vassal que me custou mais a visitar: a casa em Coutras, uma pequena vila nos arredores de Bordéus.
Na organização da minha peregrinação às casas L&V contactei os proprietários por correio e porque não conhecia o endereço exacto das casas, tentei um estilo menos ortodoxo para o envio das cartas. No envelope indiquei o nome da rua que tinha e colei uma fotografia da casa fazendo fé na inteligência do carteiro sendo que, estando na rua correcta, o carteiro conseguiria descobrir a casa por "identificação visual". 
De todas as cartas que enviei aos habitantes das casas L&V recebi apenas uma devolvida, precisamente a que devia ser entregue na casa de Coutras. "Devolvida ao remetente" por eventual erro na morada e assinale-se a exemplar ironia desta ser a carta destinada à casa mais ícone dos L&V.
Ainda assim decidi visitar a "estufa" e consegui reunir todos os factores que garantiram à partida o quase-falhanço do propósito, desde o meio de transporte (mais precisamente, a ausência do meio de transporte), passando pela pixelizada impressão do mapa via google earth, até ao dia escolhido, um domingo sem viva alma nas ruas da pequena Coutras.
Ao rever estas imagens lembrei-me dos quilómetros que percorri a pé numa deserta estrada municipal, por campos verdes sem fim à vista, num domingo carregado de nuvens, para dar de caras com uma estufa fechada.
O dono não estava. Observei o que pude. Assinalei o feito com algumas orgulhosas fotos de dever cumprido e na caixa de correio deixei uma nota em francês macarrónico dizendo que ali tinha estado e que se pudesse um dia voltaria.




2 comentários:

AM disse...

e que bela peregrinação :)
cada um com a sua religião :)

tiago borges disse...

se eu soubesse o que sei hoje... foi a inocência da juventude!
ninguém diria que um curto "pan" no google earth demorasse tanto tempo a pé.
: )