o desconexo

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28.7.10

opus 1

Escrevo para fixar algumas notas inesperadas que me tomaram de assalto e para relatar as surpresas e os atritos, esses por demasiados não se deixaram desenhar, ou talvez, por em demasia, toldaram facilmente a objectiva barata da minha máquina sem rolo. (Verdade é que temos sempre por aí coisas 'não-pixelisaveis', por isso resta-nos a escrita...) Também escrevo porque não tive naqueles instantes uma cabeça atenta para contar as inquietudes que a casa me provocou; ou simplesmente porque o tempo que demorei a recuperar do abalo do 'first date', perdoem-me o anglicismo, condenaria ao fracasso a tentativa de dois dedos de conversa sobre o assunto.

O meu encontro com a Maison Blanche não foi fácil. Quase como um daqueles primeiros encontros em que se chega estupidamente nervoso e se parte estupidamente inquieto porque nem sim, nem não, nem talvez. Foi um estalo entre a excitação da primeira vez e a aparente ausência de lacunas. Baudelaire escreveu que sem lacunas não ha surpresas, mas nem sequer foi o caso. O lugar fez meio-golo, e a entrada em modo de procissão, próximo de uma religiosidade non-sense e de paragens pausadas, precipitou-se num jogo de quente-frio, perto e longe, para descobrir a porta recuada. No interior, dois eixos ortogonais e transições fáceis entre os espaços. Grandes espaços, pequenos espaços, espaços programados e sem espaços escaninhos. Um plano comedido cintado por um perímetro sólido e 4 pilares de 60cm por 50cm que tornaram o interior generoso em possibilidades. Nas janelas a frescura da idade. A cada espaço a sua janela, como um catalogo de atmosferas, um repertório de essência experimental. A Maison Blanche construída para os seus pais em 1912 foi o opus 1 de Corbusier, um laboratório de novidades e ousadias... como uma primeira vez ou como de todas as outras vezes.

Hoje, a dias de distância, e quase de cabeça fria, não me parece que a culpa foi minha por ser um tipo difícil, nem dela por ser uma casa branca. O que me atormenta foi ter descoberto que entre a Maison Blanche e a Petite Maison só passaram 11 anos e a isso não se fica indiferente.


6 comentários:

dl disse...

guardo a impressão de que já lá estava tudo, na 2a foto.

"o pai dele vinha do seu atelier na cave, lavava as mãos debaixo da janela, escondido da entrada principal, no caminho para a cozinha que dava para o pátio por onde via os convidados a aproximarem-se"

passados 11 anos, os temas são os mesmos. a linguagem evolui. foi o que pensei.

tiago borges disse...

o pequeno "nao-lugar" foi muito bem conseguido...
e a foto foi feliz.

alma disse...

Tiago,
Um post muito feliz :)

aproveita muito bem a Suiça :))

tiago borges disse...

obrigado alma...
...desde a maison Blanche, à vila Le Lac, sem esquecer a Tourette, Ronchamp, o '3+1' em Firminy, o Clarté em genebra, e ainda o cabanon... está tudo a um passinho daqui.
como bom expatriado está para breve um salto à "west coast of europe". : )

AM disse...

e se estiveres, se vieres, pelo sul, avisa :)

tiago borges disse...

AM creio que a cidade mais a sul onde passarei será Alcobaça... é longe para um café? : )