o desconexo

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24.5.10

pontos e abordagens oblíquas


A arquitectura21 de Maio dedicou-se a um exercício de curadoria sobre 'jovens práticas espaciais'. Inês Moreira, também parte das 'jovens práticas', foi a cartógrafa que propôs traçar um mapa que recenseasse, de certa forma, produções alternativas, ditas inter-disciplinares, com génese, de alguma maneira, na arquitectura, ou seja, em profissionais cuja formação passou por escolas de arquitectura.

Inês Moreira parte da ideia de mapa, uma imagem convencional de um referenciador de nomes e lugares. Um mapa é diferente de um guia de viagem mas um mapa não deixa de ser uma representação, aliás é para isso que serve, representar um território, e ainda, ser utilizado como referência numa orientação. Assim o sendo deve ser lisível, e devem identificar-se nele lugares, podendo traçar percursos sem necessidade das memórias descritivas do cartógrafo que de antemão calcou o caminho. No entanto, e como o descreve I.Moreira, o mapa das 'jovens práticas' que apresenta é menos linear, não cartesiano, nem bidimensional. De facto, e para podermos entender a construção deste mapa, é útil ler o texto introdutório que precede o recenseamento.
Nesse texto, Inês Moreira sublinha que não se prende à ideia convencional de autor, nem a categorias fixas... Mas desenhar um mapa não deixa de ser isso mesmo: fixar pontos. Não seria incompatível arriscar uma cartografia "x,y,z". Seria até necessário para provocar e demonstrar que há mudanças de paradigmas que vêm associados à questões geracionais e a questões da formação, como até refere Inês Moreira ao falar de "mobilidade" e "fragmentação da concepção de formação em arquitectura". Contrariamente ao que afirma a autora ao escrever "a presente publicação afasta a esclarecimento de uma "questão geracional", este mapa trata isso mesmo: uma geração 30/40 (segundo João Afonso) que propõe alternativas de trabalho. J.Afonso clarifica ainda no texto introdutório que a publicação compila breves apresentações do que fazem um vasto conjunto de pessoas tendo por base o conhecimento disciplinar da sua formação.
Na sua construção Inês Moreira cataloga a selecção segundo seis denominadores: 'Prática de pesquisa', 'Espaço', 'Plataforma', 'Disseminação', 'Organização', e 'Práticas'. Contudo a nomenclatura escolhida escapa à compreensão imediata e guarda uma ambiguidade inerente à dificuldade deste tipo de exercícios. Se para 'Disseminação' a escolha parece clara com a Revista Detritos, os Opusculos, ou a Conditions Magazine; noutros como 'Espaço' gera estranheza incluir a natureza do trabalho dos Espacialistas a par da proposta do Atelier Base ou a Cafetaria e Loja em Sacavém do AtelierMob no mesmo denominador.
Para lá dos seis denominadores, o mapa, desenhado segundo um modelo de navegação "possivelmente mais confuso" segundo a autora, tem ainda três 'layers' que são a diversidade de ideias de projecto, diversidade de actores, e a diversidade de geografias. Fica por entender (e porque não em exercícios futuros?) de que forma estes três layers, sendo que adicionam ou constituem a informação fundamental do mapa, podem ser cruzados na identificação dos vectores que (também) orientam (novas) formas de produção contemporânea de e sobre arquitectura em Portugal.
Se se concorda com Inês Moreira quando afirma que este mapa "não apresenta uma leitura linear" - talvez esteja reservado ao leitor tentar essa reflexão - discorda-se quando escreve que o seu exercício é "avesso à legitimação" porque um mapa fixa pontos, fixa nomes e necessariamente legitima moradas. E se neste concreto exercício as escolhas de Inês Moreira tratam o "quem?", certamente que outras oportunidades surgirão para conhecer os ausentes "para onde?" e "porquê?".

Tatiana Trouvé, '350 Points Towards Infinity' (2009)

Do meu lado, tendo um pressuposto semelhante, não faria um mapa. Não seria cartógrafo. Evocaria seguramente a obra '350 points towards infinity' de Tatiana Trouvé como a 'mise-en-scène' privilegiada para este tipo de exercício.
350 fios de prumo que desafiam Newton, desalinhados da lei natural da gravidade. Pontos atraídos por outros lugares que geram o absurdo e deixam o observador cativado por outra realidade seguramente mais estimulante, ou se se preferir, estimulante de outra forma. Por analogia, '350 points towards infinity' evidenciaria a leitura dicotómica entre a realidade conhecida e outras forças gravitacionais que geram o desconhecido, que geram uma nova espacialidade. Um espaço fixo mas em imanente tensão. Um espaço fixo em imprevisto movimento. No final apenas pontos e abordagens oblíquas.