Inês Moreira parte da ideia de mapa, uma imagem convencional de um referenciador de nomes e lugares. Um mapa é diferente de um guia de viagem mas um mapa não deixa de ser uma representação, aliás é para isso que serve, representar um território, e ainda, ser utilizado como referência numa orientação. Assim o sendo deve ser lisível, e devem identificar-se nele lugares, podendo traçar percursos sem necessidade das memórias descritivas do cartógrafo que de antemão calcou o caminho. No entanto, e como o descreve I.Moreira, o mapa das 'jovens práticas' que apresenta é menos linear, não cartesiano, nem bidimensional. De facto, e para podermos entender a construção deste mapa, é útil ler o texto introdutório que precede o recenseamento.
Nesse texto, Inês Moreira sublinha que não se prende à ideia convencional de autor, nem a categorias fixas... Mas desenhar um mapa não deixa de ser isso mesmo: fixar pontos. Não seria incompatível arriscar uma cartografia "x,y,z". Seria até necessário para provocar e demonstrar que há mudanças de paradigmas que vêm associados à questões geracionais e a questões da formação, como até refere Inês Moreira ao falar de "mobilidade" e "fragmentação da concepção de formação em arquitectura". Contrariamente ao que afirma a autora ao escrever "a presente publicação afasta a esclarecimento de uma "questão geracional", este mapa trata isso mesmo: uma geração 30/40 (segundo João Afonso) que propõe alternativas de trabalho. J.Afonso clarifica ainda no texto introdutório que a publicação compila breves apresentações do que fazem um vasto conjunto de pessoas tendo por base o conhecimento disciplinar da sua formação.
Na sua construção Inês Moreira cataloga a selecção segundo seis denominadores: 'Prática de pesquisa', 'Espaço', 'Plataforma', 'Disseminação', 'Organização', e 'Práticas'. Contudo a nomenclatura escolhida escapa à compreensão imediata e guarda uma ambiguidade inerente à dificuldade deste tipo de exercícios. Se para 'Disseminação' a escolha parece clara com a Revista Detritos, os Opusculos, ou a Conditions Magazine; noutros como 'Espaço' gera estranheza incluir a natureza do trabalho dos Espacialistas a par da proposta do Atelier Base ou a Cafetaria e Loja em Sacavém do AtelierMob no mesmo denominador.
Para lá dos seis denominadores, o mapa, desenhado segundo um modelo de navegação "possivelmente mais confuso" segundo a autora, tem ainda três 'layers' que são a diversidade de ideias de projecto, diversidade de actores, e a diversidade de geografias. Fica por entender (e porque não em exercícios futuros?) de que forma estes três layers, sendo que adicionam ou constituem a informação fundamental do mapa, podem ser cruzados na identificação dos vectores que (também) orientam (novas) formas de produção contemporânea de e sobre arquitectura em Portugal.
Se se concorda com Inês Moreira quando afirma que este mapa "não apresenta uma leitura linear" - talvez esteja reservado ao leitor tentar essa reflexão - discorda-se quando escreve que o seu exercício é "avesso à legitimação" porque um mapa fixa pontos, fixa nomes e necessariamente legitima moradas. E se neste concreto exercício as escolhas de Inês Moreira tratam o "quem?", certamente que outras oportunidades surgirão para conhecer os ausentes "para onde?" e "porquê?".
Tatiana Trouvé, '350 Points Towards Infinity' (2009)
Do meu lado, tendo um pressuposto semelhante, não faria um mapa. Não seria cartógrafo. Evocaria seguramente a obra '350 points towards infinity' de Tatiana Trouvé como a 'mise-en-scène' privilegiada para este tipo de exercício.
350 fios de prumo que desafiam Newton, desalinhados da lei natural da gravidade. Pontos atraídos por outros lugares que geram o absurdo e deixam o observador cativado por outra realidade seguramente mais estimulante, ou se se preferir, estimulante de outra forma. Por analogia, '350 points towards infinity' evidenciaria a leitura dicotómica entre a realidade conhecida e outras forças gravitacionais que geram o desconhecido, que geram uma nova espacialidade. Um espaço fixo mas em imanente tensão. Um espaço fixo em imprevisto movimento. No final apenas pontos e abordagens oblíquas.
3 comentários:
Caro Tiago,
gostei do comentário à revista, e da obra que propões como um outro modelo de aproximação. navegar por entre entidades em movimento tem uma complexidade que me leva a crer que o melhor angulo seria o se cada um dos pendulos desde o seu vertice.
quanto ao para onde... só o tempo o dirá... ou o não. quanto ao porquê cada um foi expondo quando o considerou pertinente. touché. este é um mapa para uma diversas navegações e não apenas para um só caminho. é sempre possivel aprefeiçoar, redesenhar ou apenas deitar fora um mapa, caso não seja de utilidade. um ate breve,
ines
Inês,
não sei se a obra da Tatiana Trouvé seria um melhor modelo de aproximação; pareceu-me na hora mais excitante, seja pela ideia de oscilações possíveis, seja pela ideia de magnetismo... (que o mero observador desconhece por não saber que há ímans colocados por debaixo da lage).
o que cada um dos perfis escreveu talvez peque por demasiado pouco para resumir o que fazem ou o que produzem mas talvez o suficiente para despertar a curiosidade. fica a dúvida.
no futuro o leitor estará atento porque se foram escolhidos é por teres reconhecido neles alguma pertinência no panorama actual.
pessoalmente é de uma leitura global que se trata, é a 'constelação' desenhada entre os vários pontos e perceber a realidade proposta.
obrigado por teres passado pelo des-conexo e espero que até breve.
Tiago,
o desafio era numa revista mensal de circulação generalista fazer um dossier suficientemente amplo para dar a conhecer um panorama diverso de práticas... pedindo em 300 palavras e imagens uma síntese que apresentasse cada autor na 1ª pessoa. espero que isto venha a ser útil aos próprios e a outros, sendo que não visa afiramr nem legitimar nenhum autor...
ate breve e foi um prazer conhecer-te,
ines
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