o desconexo

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15.7.09

Saramago Siza Höfer

Candida Hofer, Collegium helveticum ETH Zurique (2005)

Na adolescência tentei por duas vezes ler o "Todos os nomes". Falhei. Na segunda tentativa não passei sequer da página número vinte e dois.
Há pouco tempo li "A Caverna" e agora delicio-me com "A viagem do elefante", pelo meio fiz uma pit stop para "Aprender a rezar na era da técnica" (d'outro campeonato, mas muito bom!).
Agora pareço gostar do modo como Saramago encadeia as palavras, cada uma daquelas virgulas, daquelas frases quase intermináveis, da ironia fina e das imagens escritas.
Ontem Saramago escreveu sobre Siza, sobre o valor da parede no trabalho de Siza. Saramago começa por (d)escrever a parede, o "ponto sólido" para o "olho humano". Depois surge o literata que se detém no "espaço de contemplação" que são as paredes sizianas, e conclui debruçando-se sobre o milagre que, para si, Siza opera ao reunir - Saramago vai mais longe, escreve fundir - dois opostos: opacidade e transparência.
O texto sobre Siza infelizmente não é tão bom como outro que Saramago escreveu sobre a exposição "Em Portugal" de Candida Hofer. Esse não era um texto sobre a arquitectura em si, mas sobre a fotografia de arquitectura, mas que no caso de Hofer não é assim tão diferente.
No texto sobre Hofer, Saramago tomou o vazio como elemento de partida e de trabalho - "O homem que levantou quatro paredes e sobre elas colocou um tecto, criou o vazio" - e a "partir" desta frase deixou-se fluir numa escrita que parece fala.
Encontrei entre os dois textos uma invariante: a proximidade entre o olho e a coisa. Em ambos os exercícios estamos perante um zoom constante que num indeterminado momento trespassa o concreto do visível para se diluir no não-visível, no para-além-de.
A porosidade, característica das paredes sizianas que se deixam "perfurar" com o olhar, também está presente no texto sobre Hofer, mas à escala da cidade-mundo: "O mundo, poroso pela sua estrutura molecular, é-o também na sequência interminável de outra espécie de células que são os edifícios" - escreve Saramago.
Melhor aparece quando Saramago se debruça sobre a proximidade entre o observador e a coisa observada, sinal da proximidade entre escritor e coisa (d)escrita.
Se, sobre Siza é apenas o olhar que "perfura" a parede até ao ponto de nela entrar e alcançar uma suposta transparência; sobre Hofer, Saramago, ao (re)tratar o vazio, já não se cinge ao olhar, apresenta o próprio sujeito que por descuido e de tanto se aproximar, ameaça anular esse valor - como ele escreve:

"Um vazio que o observador terá o cuidado de não se aproximar demasiado, sob pena de fazê-lo desaparecer (já sabemos que o vazio e presença humana são inconciliáveis...)."

31.5.08

terminou o transtorno

Parece-me a obra de concreto armado branco mais fotogénica que conheço. Fez ontem capa no Público e abre hoje ao público. A visitar...

Foto:Fabio del Re

Entrevista de Nuno Amaral a Siza Vieira publicada ontem no jornal Público
Porto Alegre 30.05.2008

Aos 75 anos, Álvaro Siza Vieira, o mais conhecido arquitecto português, olha com desencanto para um país que "destrói e trucida" algumas das obras que o celebrizaram. No Brasil encontrou o que precisava e hoje inaugura, em Porto Alegre, a Fundação Iberê Camargo, projecto distinguido com o troféu Leão de Ouro na Bienal de Arquitectura de Veneza de 2002, um facto inédito na América Latina.

O que encontrou no Brasil?

A junção de esforços e estímulos para que a obra "ficasse bem feita".

Qual a obra que sente que ainda lhe falta fazer em Portugal?
Quase que não queria fazer mais nenhuma.

Porquê?
Porque das que tenho feito, algumas estão abandonadas, a arruinarem-se. Outras já são motivo de insultos, mesmo antes de aparecerem no espaço.

De insultos?
Olhe, por exemplo, a Avenida dos Aliados, no Porto. Há pessoas que não gostam, é um direito. Mas houve escritos insultuosos nos jornais, sobretudo o empolamento da posição de um número de pessoas, a tal "grande manifestação na praça" dos Aliados, que teve televisões e tudo, páginas de jornais... e estavam lá 29 pessoas a manifestar-se, segundo li.

Mas recebe também muitos elogios.
Sim, a crítica boa ou má é fundamental. Em Portugal, à partida, costuma destruir-se completamente e essa é uma reacção que não se vê quando aparece uma obra desgraçada. Mas isso já não se lê no jornal. Quando se está a destruir as margens do rio Douro, por exemplo, não vejo críticas nos jornais.

Mas tem ainda projectos em execução?
Estou ainda a fazer obras em Portugal, como a Fundação Júlio Pomar e os parques lúdicos termais de Vidago e de Pedras Salgadas, por exemplo, mas muitas vezes pergunto-me se vale a pena.
O Pavilhão de Portugal está abandonado, custou não sei quantos milhões de contos, não faz sentido, não se entende por que se inutiliza esse investimento. O Bairro da Malagueira, em Évora, está trucidado... trucidado. Realmente, tendo alternativas, não me dá muita vontade de trabalhar em Portugal. Enfim, continuo a trabalhar e gosto, mas tenho como ponto de partida a noção de que não vai servir para grande coisa.
Em contrapartida, aqui [Porto Alegre], surgiu uma oportunidade de trabalho muito boa. O local é belíssimo, a cidade estava interessada em ter um museu bonito, surgiu uma equipa muito bem organizada, foram criadas condições de diálogo; enfim, condições difíceis de encontrar.

Esta é uma obra especial, além de ser a primeira que assina no Brasil?
Sim, completamente. Quem promoveu a construção deste edifício queria uma obra bela e criou as condições para o arquitecto fazer o melhor que pôde. Isso é raro. Normalmente o dono da obra não está muito interessado na qualidade.
Se estamos a trabalhar em Portugal, por norma, o que conta é que o projecto seja feito em muito pouco tempo e não se pode estar com grandes exigências. Às vezes debatemo-nos com um problema, as coisas não estão a sair bem e não temos apoio para que possam sair melhor.

Teve, então, um cheque em branco da Fundação Iberê Camargo?
Não se trata de um cheque em branco. A qualidade da arquitectura não tem que ver com dinheiro, posso fazer uma obra de baixo custo e de grande qualidade. Foi estímulo, teria de ser um edifício emergente e houve muito apoio para que ficasse bem feito. Houve uma congregação de esforços e vontades entre a fundação, a administração, a própria viúva, todos queriam atingir bons resultados.

É reconhecido por respeitar sempre o espírito do lugar - o resultado foi um edifício de linguagem Siza com sotaque brasileiro?
Os sotaques não vêm só do autor, surgem das próprias condições e circunstâncias em que um edifício é produzido. Por exemplo, na Holanda, onde trabalhei há anos, em habitação, tudo quanto se faz é prefabricado, necessariamente...

É relevante que a sua estreia no Brasil seja esta fundação?
Esta obra foi uma sorte incrível, gostei muito do programa, o local é lindíssimo, apesar de muito difícil, tem aquela largueza de espaço em frente, tão característico do Brasil.

Tenciona fazer mais algum projecto no Brasil?
Há experiências muito boas, não só no Brasil, mas na Coreia e no Japão, para onde tive agora um convite para fazer um hotel. Nestes sítios há realmente uma vontade, não de se ter só uma imagem, é de ter um projecto sólido. Na Europa, não sei...
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E ainda:

Video: Entrevista e visita de A.Siza à Fundação
(pop-up em windows media - 5m.07s)


6.9.06

Álvaro Siza Pavilion | Photography by Fernando Guerra

New architectural project by Álvaro Siza in Anyang Garden near Seoul | Korea