o desconexo

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31.5.08

terminou o transtorno

Parece-me a obra de concreto armado branco mais fotogénica que conheço. Fez ontem capa no Público e abre hoje ao público. A visitar...

Foto:Fabio del Re

Entrevista de Nuno Amaral a Siza Vieira publicada ontem no jornal Público
Porto Alegre 30.05.2008

Aos 75 anos, Álvaro Siza Vieira, o mais conhecido arquitecto português, olha com desencanto para um país que "destrói e trucida" algumas das obras que o celebrizaram. No Brasil encontrou o que precisava e hoje inaugura, em Porto Alegre, a Fundação Iberê Camargo, projecto distinguido com o troféu Leão de Ouro na Bienal de Arquitectura de Veneza de 2002, um facto inédito na América Latina.

O que encontrou no Brasil?

A junção de esforços e estímulos para que a obra "ficasse bem feita".

Qual a obra que sente que ainda lhe falta fazer em Portugal?
Quase que não queria fazer mais nenhuma.

Porquê?
Porque das que tenho feito, algumas estão abandonadas, a arruinarem-se. Outras já são motivo de insultos, mesmo antes de aparecerem no espaço.

De insultos?
Olhe, por exemplo, a Avenida dos Aliados, no Porto. Há pessoas que não gostam, é um direito. Mas houve escritos insultuosos nos jornais, sobretudo o empolamento da posição de um número de pessoas, a tal "grande manifestação na praça" dos Aliados, que teve televisões e tudo, páginas de jornais... e estavam lá 29 pessoas a manifestar-se, segundo li.

Mas recebe também muitos elogios.
Sim, a crítica boa ou má é fundamental. Em Portugal, à partida, costuma destruir-se completamente e essa é uma reacção que não se vê quando aparece uma obra desgraçada. Mas isso já não se lê no jornal. Quando se está a destruir as margens do rio Douro, por exemplo, não vejo críticas nos jornais.

Mas tem ainda projectos em execução?
Estou ainda a fazer obras em Portugal, como a Fundação Júlio Pomar e os parques lúdicos termais de Vidago e de Pedras Salgadas, por exemplo, mas muitas vezes pergunto-me se vale a pena.
O Pavilhão de Portugal está abandonado, custou não sei quantos milhões de contos, não faz sentido, não se entende por que se inutiliza esse investimento. O Bairro da Malagueira, em Évora, está trucidado... trucidado. Realmente, tendo alternativas, não me dá muita vontade de trabalhar em Portugal. Enfim, continuo a trabalhar e gosto, mas tenho como ponto de partida a noção de que não vai servir para grande coisa.
Em contrapartida, aqui [Porto Alegre], surgiu uma oportunidade de trabalho muito boa. O local é belíssimo, a cidade estava interessada em ter um museu bonito, surgiu uma equipa muito bem organizada, foram criadas condições de diálogo; enfim, condições difíceis de encontrar.

Esta é uma obra especial, além de ser a primeira que assina no Brasil?
Sim, completamente. Quem promoveu a construção deste edifício queria uma obra bela e criou as condições para o arquitecto fazer o melhor que pôde. Isso é raro. Normalmente o dono da obra não está muito interessado na qualidade.
Se estamos a trabalhar em Portugal, por norma, o que conta é que o projecto seja feito em muito pouco tempo e não se pode estar com grandes exigências. Às vezes debatemo-nos com um problema, as coisas não estão a sair bem e não temos apoio para que possam sair melhor.

Teve, então, um cheque em branco da Fundação Iberê Camargo?
Não se trata de um cheque em branco. A qualidade da arquitectura não tem que ver com dinheiro, posso fazer uma obra de baixo custo e de grande qualidade. Foi estímulo, teria de ser um edifício emergente e houve muito apoio para que ficasse bem feito. Houve uma congregação de esforços e vontades entre a fundação, a administração, a própria viúva, todos queriam atingir bons resultados.

É reconhecido por respeitar sempre o espírito do lugar - o resultado foi um edifício de linguagem Siza com sotaque brasileiro?
Os sotaques não vêm só do autor, surgem das próprias condições e circunstâncias em que um edifício é produzido. Por exemplo, na Holanda, onde trabalhei há anos, em habitação, tudo quanto se faz é prefabricado, necessariamente...

É relevante que a sua estreia no Brasil seja esta fundação?
Esta obra foi uma sorte incrível, gostei muito do programa, o local é lindíssimo, apesar de muito difícil, tem aquela largueza de espaço em frente, tão característico do Brasil.

Tenciona fazer mais algum projecto no Brasil?
Há experiências muito boas, não só no Brasil, mas na Coreia e no Japão, para onde tive agora um convite para fazer um hotel. Nestes sítios há realmente uma vontade, não de se ter só uma imagem, é de ter um projecto sólido. Na Europa, não sei...
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E ainda:

Video: Entrevista e visita de A.Siza à Fundação
(pop-up em windows media - 5m.07s)


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