o desconexo

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13.5.13

ferdinand hodler

Hodler a tocar tambor (1910) Fotografia de Gertrud Mueller
Ferdinand Hodler foi um pintor suíço do século XIX e é a melhor desculpa que encontro para convencer o leitor a ir até Basileia, mais precisamente até à Fundação Beyeler. E isto pouco importa onde estiver neste preciso momento.

Hodler viveu entre 1853 e 1918, e a exposição criteriosa da Fundação Beyeler escolheu apenas trabalhos dos últimos 5 anos da sua vida. Um 'ensemble' tardio e com uma força de conjunto muitíssimo forte, tanto pelas obras como pela 'mise-en-scène' dos curadores. Basta cruzar as duas ou três primeiras salas para perceber que ali está muito trabalho, principalmente na luz. Sim, uma luz bem domesticada; penso na iluminação artificial da sala onde se expõe a morte de Valentine Godé-Darel e penso ainda na luz natural daquele dia cinzento, onde os envidraçados do Renzo Piano insistiram em lembrar-me onde estava.

Estão expostos alguns auto-retratos de um homem que não se pintava mal, elegante e de rosto centrado na tela, aparece sempre carregado de carácter. Em alguns auto-retratos julgo mesmo ter visto montanhas de rosto em vez de maçãs. As paisagens dominam em grande número e estão lá para nos demorarmos como se aquilo tudo viesse de um sonho. Por ali ficamos a vadiar nas pinceladas. O olho agarra-se com mais facilidade às paisagens onde a proporção das montanhas é descarada e descabida, e onde céu não ocupa mais do que um sexto da tela. Mais à frente, a surpresa vem da sala onde se mostram as mortes de Valentine, em fase terminal, admirável e cadavérica, também ela pintada como uma paisagem. Muito estruturada em grandes gestos horizontais assim é a morte.

De volta às paisagens, lembro-me que uma das coisas mais bonitas, para quem como eu todos os dias, olha fascinado para o lago Leman, é a mestria que Hodler teimosamente pintou repetidamente a mesma paisagem, no mesmo dia ou em dias diferentes, com o vigor único de quem persegue qualquer coisa que já lá não está à segunda pincelada.

(Para os olhos aqui)

22.2.11

prognóstico


Uns passos mais adiante.
Talvez por equívoco, mais do que por negligência, esta imagem não figurou num post anterior.

17.1.11

candeia que vai à frente


Os últimos tempos foram preenchidos de referências aos mais variados tipos de expressão (escrita) sobre arquitectura. Liste-se: a Log da Cinthia Davidson na crista da onda com 'Curating architecture'; a ficção de Pedro Gadanho como construção crítica de Once upon a place; a reflexão do mesmo autor em 'Del curare architettura come pratica critica'; o debate académico-profano da invasão-crítica blogger em Critical Futures em Londres (com mais dois debates num futuro próximo); o português JA 239 com Ser crítico (jornal que já tinha feito um exclusivo no numero 211); e também, no âmbito das questões regionais, o Do sabor da crítica no blog d'as Catedrais. Ou ainda, na vizinhança, o 'À quoi pense l'arte contemporain?' da Critique e o Text zur kunst 74 com 'Statements on contemporary art'.

No cimo da pilha de eventos estou a digerir a publicação da Anyone Corporation e a pequena entrevista de Pedro Gadanho ao blog da BIArch que sumariza a tendência: 'curating is the new criticism'. A nova tendência, diz Gadanho, é o exercício curatorial como prática.
A percepção do mundo da arquitectura vai privilegiar-se através da exposição, da disposição das peças, dos textos, das imagens, e principalmente, do juízo. Afinal, poder-se-ia dizer que o exercício de crítica de arquitectura através do gesto curatorial tratará essa problemática. No lugar do texto escrito, o crítico vai expor o seu juizo.

Talvez com largos anos de atraso em relação às correntes artisticas onde o próprio artista experimenta o comissariado há muito tempo, não se descobriu a pólvora, mas esta é uma tendência que se vê iluminada pelos holofotes dos últimos momentos. O comissariado como crítica e como forma de produção arquitectónica é emocionante e suficientemente interessante para assumir o monopólio das próximas reflexões. Não só tem q.b. de dramatismo, como também levanta uma série de questões...

Será, ou não, ambíguo afirmar que o projecto de arquitectura tem uma condição, à partida, importável? Será que a arquitectura, enquanto projecto e objecto exposto, expõe-nos à impossibilidade da sua exposição? Será que à semelhança do vídeo de uma performance artística, o visitante dificilmente presenciará a totalidade do projecto porque a ideia de expor arquitectura, na sua condição absoluta, roça a impossibilidade?

Será o caminho do exercício curatorial mais operativo do que os mecanismos vulgares do discurso escrito? Irá o contéudo crítico sair ainda mais encriptado em relação à prática do texto? Poderá a vontade crítica ser mais operativa? O que vão fazer os Olbrists e os Szeemans da arquitectura? Como é que os comissariados poderão fixar 'a new agenda'? Como é que a capacidade criativa da crítica vai usar as potencialidades das ferramentas curatoriais? Será possível mapear os inputs da prática curatorial na produção de projecto num determinado contexto? Vamos falhar redondamente as possibilidades críticas de um projecto curatorial? Ou pode a afirmação de Gadanho ter uma efectivação concreta?

Se calhar pode... to find out how.

27.5.10

os erros de Sally

Sally Mann, fotografia da série 'Deep South' 1996-1998

Um erro é o que é. Um erro.
Presuma-se que a natureza primária do erro reside na sua imprevisibilidade. Um erro será portanto um evento não antecipável num determinado processo, um conjunto de micro-acontecimentos que se desenrolam para lá da compreensão, gerados ao longo do curso 'normal' do processo.
Coloque-se depois a questão: - o que acontece se o erro for aceite como elemento-parte do processo?
O autor erra. O autor assume o erro. O autor repete o erro. E depois deixa-o acontecer de novo e outra vez. Ele não o contorna, mas também não o procura. O autor parece esperar pacientemente a ocorrência desses micro-acontecimento, e melhor, trabalha o erro e aperfeiçoa-o. O erro, não sendo um fim em si, torna-se a tónica dominante da obra.
Assim se chega a uma encruzilhada. Poder-se-á assumir que o erro se torna mais do que um elemento-parte e que ele é o elemento-chave no processo para atingir um fim (in)esperado. Mas até quando se pode falar ainda da existência de um erro?

Sally Mann, fotografia da série 'Deep South' 1996-1998

Para Sally Mann, fotógrafa americana, o erro é o elemento-chave e por isso Mann chama-lhe 'erro técnico'.
Na série "Deep South" quase tudo reside na ideia de 'erro técnico', conjuntos de micro-acontecimentos premeditados mas não controlados, onde Mann explora processos de acumulação, e onde tudo ganha assento sobre os seus negativos de vidro.
Os erros de Mann são as poeiras, as dedadas, as falhas entre a incerta disposição dos compostos. Camada após camada, como um mil-folhas, os erros sobrepõe-se como se existisse sempre espaço para mais um engano.
No fim chega a luz à qual reagem quimicamente os compostos e à qual se pede o impossível. Através do desequilíbrio do meio não se fixa apenas uma realidade inexacta. Fixa-se o tempo com colódio.
As fotografias de Mann narram desta forma a passagem do tempo e tratam em simultâneo a imutabilidade da paisagem. São carregadas de contrastes onde convivem o detalhe e o indistinto entre a natureza-morta e um ambiente quase fantasmagórico.
Ao fim e ao cabo há qualquer coisa difícil de explicar nas paisagens da Virgínia. Talvez sejam demasiado espessas para se deixarem ver por olhares pouco treinados, ou demasiado densas para se deixarem descreverem.
Por último, entre o que Mann faz e o que diz, fica por resolver a ambiguidade do erro; o desacerto do instante quando o erro deixa de ser o que é.
Um método.

9.4.09

Marcel

A conversa começou na hora do café. Subitamente sem perceber o fio da meada falou-se sobre a exposição Vide, une rétrospective montada no Pompidou.
A verdade é que o tema é bom. Lembrei-me do Y.Klein e acho que a história começou aí.
O que é que se vai ver quando se visita uma exposição sobre o Vazio?
-Nada... O Nada.
E nisto alguém observou: passa-se mais tempo a ler os textos descritivos do que a ver a exposição. Embalado pela conversa reforcei: se um trabalho sobre o Vazio é fundamentalmente conceptual porque é que o entendimento depende tanto de um texto? Daqui para o lugar comum de o-que-é-arte e o-que-não-é-arte foi um pulo e ninguém me respondeu.
Antes que os cafés arrefecessem ainda houve tempo para ouvir o relato de um episódio singular passado num comboio:
-O seu bilhete por favor.
-Aqui está.
-Alguma das bicicletas na entrada da carruagem lhe pertence?
-Sim, uma.
-Tem o bilhete para a bicicleta?
-Não.
-Presumo que sabe que é obrigatório pagar bilhete para transportar a bicicleta? Sem não tem o bilhete para transporte da bicicleta tem de ser penalizado.
O dono da bicicleta levantou-se, dirigiu-se à bicicleta, desmontou o pneu dianteiro, o pneu traseiro, o selim e perguntou ao revisor se ele já tinha ouvido falar no Marcel Duchamp.

2.11.08

F'Ar e Charles Pictet

f'ar_carte blanche 6_lausanne

Lausanne tem uma dinâmica cultural pouco comum para uma cidade de 130 mil pessoas. A panóplia de eventos que acontecem e que de facto têm públicos, digo salas cheias, é muito grande. Não encontramos uma sala vazia mesmo em concertos de musica erudita aos domingos de manhã na sala Métropole. Curiosamente há apenas uma associação que se presta à divulgação e organização de exposições relacionadas com a arquitectura.

O f'ar, forum d'architectures, tem em cena a sexta edição de Carte Blanche. A iniciativa funciona na base de exposição+conferencia para a qual são convidados 3 arquitectos, a quem é dada uma carta branca como ilustra o nome do evento para mostrarem a sua produção recente.
A presente sexta edição conta com Bakker&Blanc (Lausanne) , Charles Pictet (Genebra) e Ruffieux-Chehab (Fribourg). O espaço de exposição é relativamente pequeno e calhou a cada arquitecto o seu "cantinho".
Estive por lá.

Charles Pictet associou-se a um artista para mostrar 3 obras recentes: maquetes e videos deambulantes. Gosto de videos porque juntam imagem e som e tornam mais presente o espaço e a atmosfera, mas no caso dos videos apresentados por Charles Pictet a situação resulta mal porque os videos são rodados por alguém que se passeia com os olhos colados a 20 cm das paredes. As imagens rodadas descobrem mal o espaço e não complementam as maquetes para entendermos melhor a situação, o ambiente. É pena.
Deixo imagens das três realizações de Charles Pictet em exposição. (Cada imagem tem um link para o projecto em pictet-architectes.ch)

Habitaçao em Chenes-Bougerie (source: www.pictet-architecte.ch)
Habitaçao em Chenes-Bougerie (source: www.pictet-architecte.ch)

Orangerie em Vandoeuvres (source: www.pictet-architecte.ch)

Nos próximos posts teremos Bakker&Blanc...

13.5.07

Para ver em Coimbra...

Edit! é uma exposição organizada pela Ellipse Foundation em conjunto com o Centro de Artes Visuais, comissariada por Delfim Sardo, que apresenta obras de fotografia e filme da Colecção Ellipse.

A exposição vai ser mostrada em 2 partes:
6 de Maio a 24 de Junho apresentará obras de:
John Baldessari / Lothar Baumgarten / Bernd & Hilla Becher / Dan Graham / João Maria Gusmão & Pedro Paiva / Jürgen Klauke / Steve McQueen / Catherine Opie / Ed Ruscha / Allan Sekula / Thomas Struth / Jeff Wall

e de 30 Junho a 9 de Setembro apresentará obras de:
Matthew Barney / Rineke Dijkstra / Olafur Eliasson / Robert Gober / Felix Gonzalez-Torres / Douglas Gordon / Candida Höfer / Cameron Jamie / Louise Lawler / Sherrie Levine / Sharon Lockhart / Jarbas Lopes / Steve McQueen / Gabriel Orozco / Jack Pierson / Gonzalo Puch / Rosângela Rennó / Collier Schorr / Lorna Simpson / João Tabarra / Wolfgang Tillmans / James Welling


site da Ellipse Foundation
http://www.ellipsefoundation.com
com informações sobre esta exposição no separador ArtCentre»exposições


site do Centro de Artes Visuais (infelizmente desactualizado e em construção)
http://www.cav.net4b.pt/index.html/

O CAV é aqui 40°12'44"N 8°25'43"W.